Cristina Buarque morre aos 74 anos e deixa legado marcante para o samba e a MPB

Cristina Buarque morre aos 74 anos e deixa legado marcante para o samba e a MPB abr, 21 2025

Perda no samba: Cristina Buarque se despede aos 74 anos

A notícia da morte de Cristina Buarque pegou muitos de surpresa e abalou o cenário da Música Popular Brasileira. Cristina, que sempre preferiu a discrição à vida de celebridade, fez história como uma das vozes mais respeitadas do samba, gênero que ela defendia com paixão. Ela morreu neste domingo, dia 20 de abril de 2025, depois de anos de luta contra o câncer. O legado que ela deixou se espalha não apenas nos discos, mas nas rodas de samba e no coração de quem ama música brasileira.

Nascida em São Paulo, filha de Sérgio Buarque de Holanda – um dos intelectuais mais influentes do país – Cristina cresceu rodeada de artistas e ideias. Sua ligação com a música era profunda, mas também familiar: ela era irmã de Chico Buarque, Miúcha e Ana de Hollanda, formando um verdadeiro clã criativo e referência nacional.

Da estreia à resistência cultural em Paquetá

Cristina estreou oficialmente na cena musical nos anos 1970. Sua gravação de ‘Quantas lágrimas’, do mestre Manacéa, foi um divisor de águas. Lançada em 1974, a faixa levou sua voz a público de todo o país e se tornou um clássico instantâneo. Cristina nunca parou: lançou outros discos, participou de inúmeros projetos e defendeu sempre o samba tradicional, lutando contra o esquecimento de grandes sambistas e compositores do passado.

Morando em Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro, Cristina tornou-se figura central nas rodas de samba da região. Sua casa era ponto de encontro entre músicos, fãs e poetas. Quem já frequentou um desses encontros sabe: música rolava até o sol nascer, sem distinção de fama — o importante era o amor à arte e ao samba de raiz. Não era raro ver jovens talentos dividindo espaço com veteranos, em uma mistura de gerações que Cristina fazia questão de promover.

A dedicação dela não passou despercebida. Uma das últimas homenagens veio do músico Zeca Ferreira, que lembrou nas redes sociais a generosidade e a força de Cristina em preservar memórias e repertórios de sambistas que, muitas vezes, eram esquecidos pelas grandes gravadoras e rádios do mainstream.

A família Buarque, mesmo marcada por diferentes estilos e trajetórias, sempre teve na música um elo comum. Cristina, talvez a menos midiática dos irmãos, era quem preferia estar entre os músicos, ouvindo histórias, ensinando letras, incentivando projetos e revitalizando canções raras do samba. Se Chico virou símbolo da MPB moderna, Cristina se firmou como guardiã incansável das tradições.

No velório, realizado em 21 de abril, amigos e colegas de profissão compareceram para prestar as últimas homenagens. Sambistas conhecidos, integrantes de rodas de Paquetá e admiradores anônimos relataram histórias sobre sua generosidade e paixão pelo samba. Seu nome agora ecoa entre os de grandes mulheres da música popular: alguém que preferiu, sempre, o trabalho coletivo e o resgate cultural à busca por prêmios ou projeção midiática.

E assim, a partida de Cristina Buarque fecha um ciclo, mas o samba — e toda a Música Popular Brasileira — seguem pulsando nas faixas que ela gravou, nas vozes que ela inspirou e nas rodas de amigos que continuam se reunindo, como ela gostava: com simplicidade, calor humano e muita música boa.